sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Músicos do Brasil





K-Ximbinho
Sebastião de Barros
* Taipú, RN, Brasil.
† 26/08/1980 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Instrumentista, arranjador, compositor.







Formação


K-Ximbinho estudou clarinete e teoria ainda na infância. Ainda menino, fez parte de uma banda de escoteiros onde aprendeu a tocar em grupo.

Ao servir o Exército, já músico experiente apesar da pouca idade, passou para o saxofone e, por causa dele, ganhou o apelido.
Aos 21 anos, tornou-se membro da Orquestra Tabajara, em João Pessoa, na Paraíba, e ali travou contato com o choro e o jazz, ganhando acesso a partituras e arranjos que despertaram seu interesse por estudar algo mais do que o instrumento.
A mudança da Orquestra para o Rio de Janeiro, sob a liderança de Severino Araújo, permitiu que tomasse conhecesse grandes músicos e um ambiente musical que se internacionalizava.
Ali, entre 1951 e 1954, estudou harmonia e contraponto com o professor alemão Hans-Joachim Koellreutter, de formação erudita, experimentador inquieto, e arrematou a sua formação de compositor e arranjador.


Instrumentista


[K-Ximbinho] “foi o mais original dentre os instrumentistas que se dedicaram à orquestra popular urbana" (Paulo Moura).

São muitos raros os músicos capazes de se dedicar ao choro e à música clássica; ou ao jazz e à música clássica. São quase inexistentes aqueles que conseguem se afirmar nos três idiomas, K-Ximbinho foi um deles.
Chorão respeitado por todos, jazzista brasileiro quando por aqui pouco se praticava o jazz, K-Ximbinho foi, durante vários anos, clarinetista da Orquestra Sinfônica Nacional.
Inovou dentro do idioma do choro, incorporando uma série de elementos extraídos do jazz, em particular uma liberdade de improvisação que era e, de certa forma, ainda continua sendo rara.
Eu gosto do chorista que apresenta em primeiro lugar a melodia, mas dentro dessa apresentação, mesmo na primeira vez, mesmo dentro da melodia pura, ele demonstre um pouco de colorido, um pouco de bossa, que apenas não ficasse tão restrito à execução melódica do choro”.
Trouxe do jazz, ainda a idéia do uso dos riffs, novas formas de articulação e emissão do som, a escala de blues e a escala pentatônica, e conceitos que levaram adiante a transformação iniciada por Pixinguinha na década de 1930, como o acréscimo de notas estranhas à harmonia básica.
Apesar de utilizar essas harmonias jazzísticas [...], K-Ximbinho ainda preserva uma das características harmônicas principais do choro tradicional, que é a utilização de baixos invertidos.” (Alexandre Brasil)
Fez parte, também, de uma geração de músicos, à qual pertenceram Fon-Fon, Severino Araújo e Zé Bodega, entre outros, que lançou a ponte entre as big bands americanas e o samba de gafieira, da qual nasceram novas possibilidades de orquestração e interpretação solista.

Quando as classificações se tornam difíceis, estamos diante de um músico verdadeiramente original. Este é o caso de K-Ximbinho.


Compositor


O choro tinha que apresentar três seções. Hoje eu acho que é desnecessário isso, em duas seções você demonstra o conteúdo melódico de uma composição popular como é o chorinho, e acho que na primeira seção a melodia já fica explicitada, estabelecida, esclarecida.”
K-Ximbinho foi um dos primeiros a seguir Pixinguinha e escrever choros sem a terceira parte. Entretanto, K-Ximbinho tinha o hábito de reservar um espaço para o improviso jazzístico – ou seja, com material melódico novo, “composto” na hora da execução, geralmente sobre a base harmônica de toda a primeira e segunda partes.
Tal como nas suas interpretações, escrevia músicas usando as escalas pentatônicas e também as blue notes, que aparecem em diversas composições suas.
Não foi um compositor prolífico; deixou perto de 40 obras gravadas, geralmente choros – desde os choros mais tradicionais, da década de 1940, até choros progressivamente mais modernos e menos ortodoxos.
Tinha o hábito de aproveitar seu próprio apelido para dar nome às composições, como é o caso de “K-Ximbodega” (homenagem ao amigo Zé Bodega), “K-Ximrock”, e “K-Ximtema”.
Sua primeira música a ser gravada foi “Sonoroso”, escrita em parceria com o violonista Del Loro, que logo se tornou um clássico do choro. Foi uma de suas raras parcerias.
Compunha exclusivamente temas instrumentais, com a exceção de “Sonhando” – também um grande sucesso, e também escrita com Del Loro.

Além destas, outra composição que teve diversas gravações foi “Eu quero é sossego”, sem parceiros.


Arranjador


A lista das orquestras para as quais K-Ximbinho escreveu arranjos não é pequena. Entre elas, estão:

  • Orquestra Tabajara
  • Orquestra Fon-Fon
  • Orquestra de Napoleão Tavares
  • Orquestra da gravadora Odeon
  • Orquestra da gravadora Polydor
  • Orquestra da TV Globo
Mas é importante separar o trabalho profissional do arranjador daquele que é feito por vontade própria, ainda que existam muitos pontos de semelhança.
“Sua atuação no jazz do Brasil é marcada pela criação de formações camerísticas, orquestrando para instrumentos até então pouco utilizados nas pequenas formações. [...] A trompa, o violoncelo e o oboé se integraram então à cozinha jazzística tradicional.“ (Paulo Moura)
As palavras de Paulo Moura estão na contracapa do disco “Saudades de um Clarinete” (1981), pela gravadora Eldorado. Nesse disco póstumo, produzido por Airton Barbosa, todos os arranjos são de K-Ximbinho, e todas as composições são suas. Nele, o arranjador demonstra a sua arte, utilizando um conjunto de choro, uma orquestra apoiada nos metais, e até o Quinteto Villa-Lobos.
Somando as suas diversas vivências, K-Ximbinho criou um estilo de arranjo que evidencia os contrapontos de Pixinguinha e os ensinamentos deKoellreutter, as influências dos líderes de orquestras com as quais tocou, e a experiência da palheta de sons de uma grande sinfônica. O resultado final, porém, é típico de K-Ximbinho.


Carreira


A carreira de K-Ximbinho esteve sempre ligada às orquestras. De 1938 a 1942 e, depois, de 1945 a 1949, fez parte da Orquestra Tabajara, de Severino Araújo.
Foi a Orquestra Tabajara, em 1946, que gravou pela primeira vez uma obra sua, “Sonoroso”.
Entre 1942 e 1945, tocou nas orquestras de Fon-Fon e Napoleão Tavares – duas das principais orquestras de danças do Rio de Janeiro.
Seguiram-se participações em diversas outras orquestras menos importantes, até que em 1951 juntou-se à grande orquestra da Rádio Nacional.
Também na década de 1950, liderou um quinteto e um conjunto, com os quais gravou alguns discos, e participou de grupos importantes de vida curta e pouco lembrados, como O Conjunto Sete de Ouros e a Turma do Bom Balanço – associados ao movimento de renovação da música brasileira.
Como arranjador, foi contratado pela gravadora Odeon, depois pela Polydor e, em 1965, ingressou na Orquestra Sinfônica Nacional, da Rádio MEC, e na orquestra da TV Globo.

Ao longo desse tempo, participou de alguns dos primeiros festivais de jazz que aconteceram no Brasil.


Discografia


Dois títulos se destacam na discografia de K-Ximbinho:
  • “Saudades de um Clarinete” (Eldorado, LP/1981), disco póstumo, sobre o qual os músicos e pesquisadores Bernardo Fabris e Fausto Borém comentaram:
O disco ‘Saudades de um Clarinete’, de 1980 [ano de gravação], foi o último registro fonográfico comercial de K-Ximbinho e reflete sua natureza musical eclética: compôs, arranjou e regeu todas as músicas, além de ter tocado clarinete em algumas das faixas.
“O revezamento da instrumentação entre dois tipos de grupos instrumentais, a orquestra e o regional, já sinaliza para a o gosto de K-
Ximbinho pela hibridação entre o choro e o jazz. A orquestra é baseada na instrumentação das big bands de jazz, formação característica também da maioria das orquestras tradicionais de baile da época no Brasil, como é o caso da Orquestra Tabajara.
“Nesse disco, K-Ximbinho utilizou um quinteto de saxofones (dois altos, dois tenores e um barítono), um trombone, um trompete, piano, baixo e bateria. Em uma das faixas, o naipe de sopros é substituído pelo Quinteto Villa-Lobos, composto por flauta, oboé, clarinete, fagote e trompa. Por outro lado, a formação do regional inclui cavaquinho, violão, violão de sete cordas, pandeiro e clarinete ou saxofone, dependendo da música.
“Os músicos que participaram da gravação do disco ‘Saudades de um Clarinete’ são os seguintes: Solistas de Clarinete: K-Ximbinho e Zé Bodega; Solista de Saxofone: Zé Bodega; Quinteto de Saxofones: Dulcilando Pereira (Macaé), Alberto Vianna Gonçalves, Ademir Gomes, Clóvis Timóteo Guimarães, Hélcio Jardim Brenha; Piano: Edson Antonio Marin (Marinho); Bateria: Edgar Nunes (Bituca); Baixo: Antonio Augusto V. Botelho de Guimarães; Cavaquinho: Daudeth de Azevedo (Neco); Violão: Damázio Baptista de Souza Filho; Violão de Sete Cordas: Raphael Rabello; Pandeiro: Jorginho; Trombone: Jessé Sadoc Alves do Nascimento; Trompete: Heraldo Reis; Flauta: Carlos Seabra Rato; Oboé: Eros Martins de Melo; Clarineta: Paulo Sérgio dos Santos; Trompa: Carlos Gomes de Oliveira; Fagote: Airton Barbosa.”
O segundo disco é um tributo liderado por Paulo Moura:
Alguns outros discos de K-Ximbinho foram:
  • “Ritmo e Melodia” (Sinter, LP 10’ / 1956), sua estréia em LP, com um repertório que mescla canções internacionais com choros e sambas. Uma das faixas é “Rock Around the Clock”, um dos primeiros grandes sucessos do rock’n’roll
  • “O Samba de Cartola” (Polydor, LP/1958), no qual seu conjunto interpreta sambas com orquestrações sofisticadas. Ao contrário do que possa parecer, não há no repertório nenhuma música do compositor Cartola
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Como membro de grupos, participou de:
  • “Impacto!” (Polydor, LP/1964), pela Polydor, com o Conjunto Sete de Ouros, com Cipó (saxofone tenor), Ed Maciel (trombone), Gennaldo (saxofone barítono), José Marinho (piano), Julinho (trompete), Papão(bateria), e Vidal (contrabaixo)

Este verbete está baseado, em parte, no conteúdo do livro:
“Um Sopro de Brasil” (Projeto Memória Brasileira, 2006), organizado por Miriam Taubkin, com verbetes redigidos por Maria Luiza Kfouri.
As fontes de Internet utilizadas na redação dos verbetes estão disponíveis na seção de Referências da Enciclopédia.



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