Tira a guitarra do case, põe a guitarra no case: quem pensa que vida de música é moleza, está redondamente enganado. Ser músico, assim como ser médico, advogado ou engenheiro, exige muito estudo e dedicação. Um músico que não estudo tende a errar e repetir os mesmo erros em cada performance. Até piorar, dependendo do relaxamento do “profissional”. Ok, ok: 90% dos músicos brasileiros são músicos autodidatas. Eu sei que alguns vão dizer que Pepeu Gomes é um monstro na guitarra e não sabe o que é um Dó Maior ou um Si Menor, tudo bem, tudo bem. Mas imagine se esses caras tivessem aulas de teoria musical, soubessem o que são mínimas, colcheias, fusas, fermatas e staccatos. Imagine, por um momento, se esses músicos fabulosos dominassem a teoria musical. Em quantas vezes a grandeza desse material intuitivo poderia se ampliar? Em zero ou em milhões, quem sabe?
Música é difícil e ser músico exige demais do profissional: não que fazer uma cirurgia cerebral ou projetar uma rodovia não sejam difíceis (são e muito!), mas acho que subir em um palco ou banquinho é muito mais difícil. Antes que os curandeiros e projetistas de plantão - Arq, por favor me defenda - acho que além de atenção e estudo, a música exige feeling e feeling não se aprende na escola. Aliás, o feeling não se aprende com ninguém: o feeling cresce dentro de cada um na batida do bumbo, na marcação do contrabaixo, nos bends da guitarra, na sedução do saxofone. Feeling não é só sentimento. Feeling é tesão puro. Pela música, pelo instrumento, pelo palco, pelas luzes, pelo momento. Um músico sem feeling é como amor sem beijo ou como churrasco sem cerveja gelada: não é nada.
E quem pensa que é só de conhecimento e sentimento que se faz um músico, enganou-se: paciência é a maior virtude de um músico. Paciência para trocar tardes de sol por tardes de estudo, paciência para tocar o que agrada o público e não o que alimenta a própria alma (no caso dos músicos de bar) e, mais do que tudo,.paciência para aturar e perdoar aqueles que acham que, por causa das tulipas e madrugadas viradas, nosso trabalho não é uma profissão.
Ser músico é cantar e encantar. Com a cabeça, o coração e o espírito. Tão simples e tão complexo, não? Ah, como eu adoro o meu trabalho.
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